COMO ESCREVER DISTOPIAS EM FILMES E LIVROS (WORLDBUILDING)

Histórias que se passam em mundos distópicos são histórias de bravura, tenacidade e coragem, onde os personagens não enfrentam só desafios físicos e mentais, mas também grandes dilemas éticos, em mundos totalmente desumanizados. E você vai entender agora os cinco pontos básicos das histórias sobre distopias.

VALOR MORAL

Parece óbvio falar que as distopias têm valor moral oposto das utopias. Se a utopia é um sonho maravilhoso, a distopia é um pesadelo tenebroso. Ela é desafiadora e perigosa, por isso os riscos devem ser os mais altos possíveis. E, se estamos falando de valores, eles também devem ser refletidos nos personagens. Os personagens têm valores tão nobres e grandiosos, que sabem que o que está em jogo não é apenas sua própria vida. Provavelmente, a vida de outras pessoas também está em jogo.

FALTA DE CONTROLE

A ideia geral relacionada à distopia tem a ver com controle e poder. Se o controle e o poder estabelecidos em uma determinada sociedade desaparecem, ocorre uma ruptura dos valores e das regras sociais, causando histeria na população. Tal descontrole pode ter origem natural, social, científica, sobrenatural ou até militar. Cada uma dessas origens vai determinar o gênero e o público que essa história vai encontrar. Essa questão de controle e poder rompidos pode ser vista em qualquer história de apocalipse zumbi, por exemplo. Mas também pode ser vista na história “Sob a Redoma”, de Stephen King. E a pergunta que fica é: o que os personagens vão fazer em um mundo onde não há mais regras? Será que eles ainda vão seguir os valores de não roubar, matar ou enganar?

CONTROLE EXCESSIVO

É a outra ponta da balança. São distopias com governos autoritários, como podemos ver em histórias como “Divergente”, “Jogos Vorazes” e “O conto da Aia”. Nessas narrativas, é comum encontrar regras muito rígidas e punições extremas e severas a quem as descumprir. Isso encontra, no imaginário do público, ligações muito íntimas com pais severos ou chefes cruéis, por exemplo. E rapidamente a audiência se engaja nessas histórias pela luta a favor da justiça.

QUESTÃO TEMPORAL

A que horas o fim do mundo aconteceu ou vai acontecer na sua história? Como você planeja a questão temporal dentro da sua distopia? Por exemplo, em “Sob a Redoma”, de Stephen King, e até mesmo na primeira temporada de “The Walking Dead”, o mundo distópico está em formação e as regras ainda não estão muito bem estabelecidas. Então, é comum ver personagens ainda se agarraram a velhas regras e costumes. Eles não querem esquecer e se distanciar do mundo tal qual eles conheciam até então. Já outros personagens abraçam a mudança de cara. Em outras narrativas, como nos filmes “Eu Sou a Lenda”, “O Conto da Aia” e no clássico “1984”, já existe um mundo estabelecido. As regras já foram feitas e já são conhecidas pela maioria dos personagens. Existem até alguns que nem conheceram o mundo anterior. Eles só o conhecem através de lendas. E ainda há outras histórias que esse mundo antigo nem existe. Ou seja, a forma que você vai determinar o tempo da sua distopia também vai determinar diretamente que tipo de trama o público vai seguir.

DILEMAS ÉTICOS

Já falamos sobre excesso e falta de regras, sobre a questão temporal da formação do mundo distópico, mas a verdade é que essas histórias são sobre como os personagens reagem sobre uma pressão especial. Não é fácil fazer escolhas, principalmente sobre pressão. Quando abandonamos totalmente as regras sociais que conhecemos, ou as embaralhamos em dilemas éticos, como os personagens vão reagir? Eles também abandonam essas regras ou se mantêm fiéis a elas? Ou começam a criar suas próprias regras? E aí que vem a grande pergunta: o que eles vão sacrificar para alcançar seus objetivos? Os fins justificam os meios? E que objetivos são esses? Salvar a família? Salvar a si mesmos? Ou estão lutando apenas pelo poder? Em “Matrix 1”, Cypher prefere a utopia, o mundo ilusório de Matrix, ao mundo verdadeiro e distópico. Ele mata pela chance de comer um bife imaginário e, por isso, nós o condenamos. E se esse bife fosse real? Se ele estivesse matando porque está passando fome? Será que nós torceríamos por ele? Afinal, a fome que Cypher tem pela realidade é muito verdadeira. É a fome que nós temos de viver de uma maneira confortável e segura, dentro de um mundo que as regras ainda fazem algum sentido. Neo, Morpheu e Trinity fazem escolhas muito diferentes de Cypher. São altruístas e se sacrificam uns pelos outros porque querem a verdade, e não aquela fake news promovida pela Matrix. O filme, portanto, não é sobre um mundo e suas máquinas, mas sobre as escolhas éticas de seus personagens.

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Eu sou Claudio Formiga!

Nascido no Rio de Janeiro, me graduei em Comunicação pela UFRJ. Comecei minha carreira de roteirista ainda na primeira geração na internet, escrevendo em sites de humor e televisão.

Eu sou Claudio Formiga!

Nascido no Rio de Janeiro, me graduei em Comunicação pela UFRJ. Comecei minha carreira de roteirista ainda na primeira geração na internet, escrevendo em sites de humor e televisão.