Você já sabe que conflitos são o combustível de uma boa história. Quanto maior for o obstáculo que o personagem precisa enfrentar e quanto maior for o risco envolvido, maior será o engajamento do público. Mas conflito e obstáculo sozinhos podem não ser o bastante para prender a audiência, pois se não houver peripécia, o arco do seu personagem vai parecer monótono e sua história um tanto quanto previsível.
Peripécia é um artifício comum nas histórias modernas, mas já utilizado por contadores de histórias há muito tempo. A expressão foi criada por Aristóteles em “A Poética’, manual definitivo para qualquer escritor. Neste artigo, você vai entender definitivamente o que é peripécia, como ela pode ser usada para criar tensão na sua história e como isso vai ajudar a construir o arco do seu personagem.
AFINAL, O QUE É PERIPÉCIA?
Peripécia é a mudança da situação conforme ela estava sendo apresentada até o momento. Em outras palavras, estava indo tudo bem, tudo perfeito, suave na nave para o seu personagem, até que algo dá errado e tudo se destrambelha. Ou, ao contrário, está tudo confuso e embaralhado para o seu personagem, mas alguma coisa acontece e a situação melhora. Peripécia é justamente essa mudança do estado positivo para o negativo ou do negativo para o positivo, que cria tensão na sua história e que dá ritmo a ela.
Para que sua história seja envolvente, seu personagem nunca pode estar tranquilo e confortável na situação em que está, mesmo que seja uma situação ruim. Quando as peripécias acontecem e o afetam, ele aprende com elas e alguma coisa muda. É o que chamamos de arco do personagem. Para isso ficar mais claro para você, vamos analisar como a peripécia cria tensão e molda um dos arcos de personagem mais conhecidos e mais utilizados pelos escritores: “Cinderela”. Esse arco é sobre a famosa história da Disney, mas o modelo pode ser adaptado para muitos outros arcos de personagens.
CINDERELA
Cinderela leva uma vida ruim, com a madastra e duas irmãs que a maltratam. Sua vida muda um pouco para melhor depois que a família recebe convites para o baile, onde o príncipe escolheria sua futura esposa. Mas não melhora tanto assim, afinal ela é obrigada a costurar as roupas de gala das irmãs que, todas prosas, acham que vão casar com o príncipe. Então, Cinderela conhece a fada madrinha, que arruma um jeito para ela ir ao baile. Sua vida chega ao ápice quando dança com o príncipe, naquele momento mágico. Mas, para sua carruagem não virar abóbora à meia noite, ela tem que ir embora e sai correndo. A noite maravilhosa se acaba. Então, a vida de Cinderela volta a ser ruim e ela torna a ser maltratada pelas irmãs e pela madastra. Até que o príncipe, através do sapatinho de cristal que ela perdeu quando foi embora, a encontra e as coisas melhoram novamente. Eles se casam e são felizes para sempre.
Em resumo, Cinderela parte de uma situação ruim, dá uma melhorada, dá uma piorada e depois melhora ainda mais. Sua história também pode ser assim. Pense nas peripécias e na troca de baixas de tensão. Não deixe seu personagem sofrer o tempo todo e só se dar bem no final. Também não deixe que ele sempre se dê bem e nunca tenha um revés. Tenha em mente que um arco de personagem bem feito vai fazer o público amar a sua história.