ARMY OF THE DEAD: INVASÃO EM LAS VEGAS – QUE ROTEIRO RUIM

Confira tudo que não funcionou nesse lançamento da Netflix e veja as dicas para assisti-lo de forma divertida

ARMY OF THE DEAD: INVASÃO EM LAS VEGAS é um ótimo filme para quem não valoriza nem seu tempo nem seu cérebro. Um dos roteiros mais sambados dos últimos tempos, ele prometia ser uma combinação divertida de OS MERCENÁRIOS e ONZE HOMENS E UM SEGREDO, com tons cómicos de ZUMBILÂNDIA. Mas o resultado é uma tremenda bomba.

QUANTA DECEPÇÃO

No quesito filme ruim, ARMY OF THE DEAD: INVASÃO EM LAS VEGAS é uma obra prima. Ele reúne tudo que um péssimo filme precisa, já começando pelo início. Todo filme ruim que se preze precisa de uma abertura eletrizante, pois assim consegue fisgar suas vítimas e não deixar elas fugirem, ludibriadas por acharem que vão ver um filme bom. E, claro, os 14 minutos iniciais de ARMY OF THE DEAD são excelentes. Se você assistir a essa sequência e desligar, vale a pena. Mas se você optar por assistir ao resto do filme, sentimos muito.
Quando a trama realmente se inicia, conhecemos um cara que, convencido por outro cara, resolve reunir uma equipe para invadir uma cidade cheia de zumbis e recuperar 200 milhões de dólares. Ah, antes de mais nada, precisamos avisar que vamos chamar todo mundo de “cara”. O filme não perde muito tempo explicando quem são e quais as motivações de seus personagens, então também não vamos perder o nosso para decorar seus nomes e logo depois esquecer. Vamos retribuir a preguiça.
Mas, voltando à trama, por que o tal cara se motivou a colocar sua vida em risco? Porque ele não quer mais fritar hambúrgueres. Depois de ganhar 15 milhões nessa empreitada, ele pretende mudar de vida. Ele vai comprar um foodtruck para fazer sanduíches de lagosta. Oi? Isso parece até aquele papo de quando você pergunta para alguém “o que você faria se ganhasse na Mega Sena?” e, em vez de a pessoa falar “eu viajaria o mundo, conheceria outras culturas” ou algo do tipo, ela simplesmente fala “ah, eu vou montar meu negócio”. Amigo, com 15 milhões na conta, vai ficar montando negócio para quê? Vai viver a vida, meu Deus!
Mas existe uma condição para esse cara montar a equipe para pegar os 200 milhões de dólares: todos os membros da equipe precisam ser personagens clichês. Se não for clichê, não entra. Daí ele vai juntando um monte de gente que é exatamente o que aparece na tela. A maluca do helicóptero (que é a maluca do helicóptero), o esperto, o doido assassino, o arrombador de cofre (que vê o seu trabalho como se fosse uma grande arte), o clichê, o clichê e o clichê.

PROPAGANDA ENGANOSA

O roteiro tem três problemas sérios e o primeiro deles é não entregar o que ele promete. Lá naquela primeira sequência, da abertura eletrizante, nós olhamos e falamos: “Opa, vou ver um filme bacana de ação, um filme divertido e até com uns tons de comédia”. E, como nós sabemos muito bem, um bom roteiro de ação vai nos dar de seis a oito sequências com muita ação, emoção, perseguição, tiros, explosão, e tudo mais que nos deixa grudados na tela. Mas não é o que ARMY OF THE DEAD nos dá.
Durante suas quase 2h30 de filme, sabe quantas sequências de ação ele tem? Três, somente três sequências de ação. Por outro lado, sabe quantas sequências de câmera lenta tem esse filme? Sete. Sete sequências de câmera lenta contra três de ação. Já dá pra ver que o filme não vai te entregar o que promete, né? Vai ser chato, com um monte de cena em câmera lenta e musiquinha emocionante por trás, para ver se você chora mais do que fica eletrizado. E decididamente não é o que nós queremos quando vamos assistir a um filme desse gênero.

INOVAÇÃO OVER

A segunda coisa sambada desse roteiro é não saber inovar nas conversões de gênero. Já vimos um monte de filmes de zumbi. Não é novidade que se eles te morderem você também vira zumbi, que o cérebro é o ponto fraco deles, que são muito irracionais e também muito letais. Mas ARMY OF THE DEAD inova e inova bastante. Criam uma categoria que chamam de ‘zumbi-alfa’, ou seja, zumbis mais espertinhos. Muito legal, beleza, bacana!
Mas aí eles também inventam outros zumbis que, quando expostos ao sol, ficam paralisados, e, quando expostos à chuva, se movimentam. Caramba, de onde tiraram isso? Quanta criatividade! E aí você, crente que vai ver chuva à beça no filme, se prepara para as cenas de zumbis atacando todo mundo, né? Só que não chove. Não chove. Isso fica esquecido. Eles mostram essa questão da chuva em um determinado momento e depois não tocam mais no assunto. Mais uma distração no roteiro.
Para piorar, mais para frente na trama você descobre que os zumbis gostam de brincar de estátua! Eles ficam parados, bem próximos uns dos outros, até com os braços esticados para cima e, se você tocar nele, pique-cola! Virou estátua! Meu Deus do céu, caramba, é sério isso? Esse filme teve um orçamento de 90 milhões! E a gente começa a se pergutar quanto é que o roteirista não ganhou para escrever uma porcaria dessa.
Quanto à inovação, é maravilhoso trazer um sopro novo, principalmente ao gênero zumbi, que anda muito desgastado. Mas por que não escolher uma característica para mudar e trabalhá-la de uma maneira forte, bacana e aprofundada? De forma que isso até vire base para os próximos filmes do gênero? Definitivamente não é isso que ARMY OF THE DEAD faz.

MOTIVAÇÕES REPETITIVAS

Além de tudo que já falamos, temos mais um problema nesse filme: as motivações dos personagens são repetitivas e muitas vezes não condizem com o que eles fazem na trama. Basicamente, todos têm a mesma motivação ou a mesma justificativa para estarem na história. “Vou te contratar porque você é um especialista e é o único que blá blá blá blá”, essa é a explicação para a escolha de todos os membros da equipe. Tudo igual, tudo igual, tudo igual. Uma das coisas mais preguiçosas desse roteiro.
Tem até um sujeito no filme que já entra na equipe com um crachá de ‘Sou Traidor’. E, como um vilão de desenho animado, sempre que pode quer revelar seu plano para alguém, que é levar a cabeça de um ‘zumbi-alfa’ para vender aos militares. E ele consegue pegar a tal cabeça lá no meio do filme. Então, hora de sumir, certo? Só que não. Ele fica andando com a turma o tempo todo e espera o momento mais dramático do terceiro ato para, aí sim, pegar o helicóptero e fugir. Ou seja, o personagem não está agindo como personagem, e sim como o roteirista acha que ele tem que agir para deixar a trama talvez mais bacana. Só que não de novo. Quando criamos personagens, eles precisam ser fiéis às suas características e às suas motivações. Eles estão ali para viver as histórias e não para ficar servindo às ideias loucas de um roteirista.

COMO ASSISTIR DE FORMA DIVERTIDA

O mais surpreendente é que esse ARMY OF THE DEAD: INVASÃO EM LAS VEGAS tem sim seus momentos bacanas e divertidos. Então vamos te ensinar a assistir esse filme de uma forma legal. Encare como uma sequência de curta-metragens de zumbis e siga os passos a seguir, que garantimos que você não vai se decepcionar:

  • assista aos 14 minutos iniciais;
  • pule para 1h25 de filme e assista só 5 minutinhos;
  • por fim, pule para 1h45 de filme e veja até o final (essa parte é a melhor!).
    Se não for fazer assim, tem os outra dica: fuja de ARMY OF THE DEAD!

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Eu sou Claudio Formiga!

Nascido no Rio de Janeiro, me graduei em Comunicação pela UFRJ. Comecei minha carreira de roteirista ainda na primeira geração na internet, escrevendo em sites de humor e televisão.

Eu sou Claudio Formiga!

Nascido no Rio de Janeiro, me graduei em Comunicação pela UFRJ. Comecei minha carreira de roteirista ainda na primeira geração na internet, escrevendo em sites de humor e televisão.